terça-feira, 30 de maio de 2006

Editorial do Correio da Cidadania

É pouca coisa?

Dependendo dos recursos retóricos do orador, o discurso petista oscila entre a interrogação provocadora – “É pouco?” – e a afirmação categórica: “Não é pouca coisa!”. Esse intróito defensivo precede a enxurrada de cifras a respeito das boas coisas realizadas pelo governo Lula: tantos milhões de empregos com carteira; tantos milhões de famílias atendidas pela Bolsa Família; tanto isso, tanto aquilo, e por aí vai...Tudo isso é pouco? Sim, é muito pouco. Cifras descontextualizadas podem impressionar os incautos, mas não querem dizer absolutamente nada para quem está minimamente informado a respeito dos problemas reais do povo e do país. Não se trata de fazer coisas boas ou de fazer melhores coisas que FHC. Trata-se de mobilizar o povo para deter dois processos que avançam aceleradamente e que terão conseqüências gravíssimas se não forem atalhados a tempo.O primeiro deles é o aumento da dependência externa, resultante de um processo de modernização tecnológica comandado pelo mercado internacional. Como advertiu Celso Furtado, a própria integridade territorial do país ficará ameaçada caso a retomada do crescimento econômico se dê sob a égide dos capitais estrangeiros.O segundo é a escalada da barbárie. Se medidas drásticas não forem tomadas urgentemente, milhões de marginalizados formarão uma barreira praticamente intransponível à transformação deste projeto inacabado de Estado Nacional, que é o Brasil, em uma sociedade próspera e civilizada.A cada dia que passa, o Brasil afunda-se um pouco mais no sumidouro da dependência e da barbárie. Por ora, o país ainda não afundou inteiramente nas areias movediças, de modo que ainda há condições de se safar delas. Mas é preciso agir urgentemente e com muita decisão.A questão decisiva é o financiamento do desenvolvimento brasileiro – as condições da participação da nossa economia no mercado capitalista internacional.Não tendo coragem de chamar o povo para enfrentá-la, o governo Lula não dá resposta ao desafio concreto posto ao país. As “boas coisas” feitas para disfarçar a fuga da realidade podem ser muito numerosas, mas serão sempre muito pouca coisa.

Um comentário:

João disse...

Professor,

mas como mudar a dependência externa do capital estrangeiro de uma hora para outra, se nossa economia está totalmente amarrada a esses recursos? Abdicar disso de uma hora para outra resultaria numa crise econômica sem precedentes. As condições materiais são essas e devemos trabalhar de acordo com as circunstância se quisermos alcançar nossos objetivos. Não enxergar isso é correr um grave risco de caminhar para o fracasso.

O quitamente da dívida com o FMI representa um passo para o fim da dependência externa. Pode-se questionar o pagamento da dívida do ponto de vista ideológico, mas foi importantíssimo pois nos livramos das rédeas sujas do FMI.

Se quisermos acabar com a dependência externa nosso único caminho é reeleger Lula e apostar na integração latino-americana. Não vejo outras saídas possíveis.