domingo, 12 de março de 2006

Paraíso dos Banqueiros


VAMOS JUNTOS COM A CNBB
Léo Lince
09/03/2006

O secretário geral da entidade, dom Odilo Pedro Scherer, soltou o verbo flamejante no lançamento da campanha deste ano. Não ficou pedra sobre pedra. Veraz e sereno, ele chamou o Brasil de paraíso financeiro e disse que os juros altos, o baixo crescimento da economia e a altíssima lucratividade dos bancos são partes indissociáveis da engrenagem que nos tritura. Considerou as limitações encontradas pelo governo e não jogou pedras nas políticas assistenciais, mas concluiu categórico: “a política econômica não está voltada para a inclusão, ao contrário, é concentradora”. O compensatório desacompanhado de mudanças na estrutura do sistema eterniza o vale de lágrimas. A igreja sabe disto por experiência própria e vivência histórica. Estamos cansados de ver no que resulta este tipo de governo “pai dos pobres” e “mãe dos ricos”. Daí, o puxão de orelhas. O bispo meteu o dedo na ferida: “o Fome Zero é bom, mas muito pontual”. E acrescentou, com a simplicidade que todos entendem: “é preciso ir além. A mais importante política social é a geração de trabalho e renda”. Sem dúvida, uma crítica certeira e demolidora. O governo acusou o recebimento da pancada. Como fazem sempre todos os “empoderados”, o líder do governo na Câmara saltou de banda. Em reação típica do situacionismo acomodado, disse que a CNBB deveria apresentar uma proposta alternativa de política econômica. Para refrescar a memória dos esquecidos, o bispo poderia lembrá-lo daquela proposta que ganhou as últimas eleições e não foi posta em prática. Seria uma forma educada de passar um sabão nesta gente que escorrega para o outro lado quando chega ao poder. Ou melhor, na clava da ira santa, poderia usar as palavras não tão cerimoniosas que o mestre Saramago reserva para os praticantes de tão feio procedimento: “eles cospem todos os dias na cara do que foram o escarro do que são”. No tempo da ditadura, quando o autoritarismo arrastava nossa sociedade para a encalacrada, algumas estruturas intermediárias de poder se transformaram em pontos luminosos de resistência e recomposição da esperança. Quem viveu o período sabe da importância que tiveram certas siglas – CNBB, OAB, ABI, SBPC – na retomada da iniciativa cidadã. Estamos de novo na encalacrada. Os poderes maiores da política estão amesquinhados e o mau exemplo vem de cima aos borbotões. Outra vez teremos que recorrer ao prestígio e à força moral das estruturas intermediárias de poder para conjurar a catástrofe que nos ameaça. A campanha da fraternidade entrou na lida para recolocar na agenda da política os grandes temas da cidadania. Combater as desigualdades, lutar por redistribuição da renda e refazer o projeto para o Brasil. Na campanha eleitoral, o bispo falou: “os candidatos serão cobrados. A população quer saber o que será feito para gerar trabalho, renda e para reduzir a sangria de recursos que acabam nas mãos dos grupos financeiros” Boas falas, vamos juntos com a CNBB.

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